quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Afinal quem são as crianças elegíveis?

    O Despacho conjunto Nº891/99 define os princípios e as condições para o apoio integrado no âmbito da intervenção precoce dirigida a crianças com deficiência ou em risco de atraso grave do desenvolvimento e suas famílias.  
   Assim sendo, segundo este despacho, “a intervenção precoce tem como destinatários crianças até aos seis anos de idade, especialmente dos 0 aos 3 anos, que apresentem deficiência ou risco de atraso grave do desenvolvimento”.
   
   Como risco de atraso grave de desenvolvimento, entende-se as crianças que até esta idade (seis anos) que por razões pré, peri ou pós-natal ou ainda por motivos que limitem a sua capacidade de tirar partido das experiências importantes de desenvolvimento, constituam probabilidade de que uma ou mais disfunções possam ocorrer.
   Exemplos de alguns riscos de atrasos de desenvolvimento são a prematuridade e o atraso intra-uterino, a asfixia ou infecções que ocorrem especialmente durante o parto ou nos primeiros dias de nascimento. A pobreza, o baixo nível sócio cultural e a psicopatologia familiar, são exemplos de situações ambientais que colocam a criança em risco, associando-se a um desenvolvimento mais lento, necessitando por isso de intervenção precoce.

Como exemplo a esta questão: Quem são as crianças/problemáticas elegíveis? colocamos o link de um texto da DGIDC, escrito por Inês Maria da Rosa Filipe, que nos apresenta um caso de intervenção precoce na infância.

Importância das Famílias

   Através dos casos expostos, assim como da informação já colocada neste blog é possível perceber a importância que as famílias têm nos processos de Intervenção Precoce. Nestes casos a família é incluida no programa estabelecido para o seu filho, sendo responsável por estimular e trabalhar o desenvolvimento da sua criança.
   Um dos exemplos do que afirmamos está patente no filme que colocamos no post anterior, onde a própria técnica que acompanha  Caetana afirma que o seu trabalho é fundamentalmente como de uma supervisora no desenvolvimento da criança, pois apesar de estar presente na evolução da criança, esta é muito estimulada em casa.
"Citando vários autores, McNaughton (1994), refere quatro razões fundamentais para que a avaliação da satisfação parental sja actualmente considerada uma medida essencial:
- Os pais são os principais responsáveis pela criança, pelo que as suas decisões no que se refere ao sucesso/insucesso do programa são de primordial importância
- A informação sobre a satisfação/insatisfação parental ser essencial para o desenvolvimento de melhor qualidade e prevenir a rejeição do programa;
- A inclusão dos pais nas tomadas de decisão sequentes a uma avaliação poder aumentar consideravelmente a sua participação no programa;
- Os dados de satisfação do «consumidos» poderem ser utilizados para convencer as autoridades da utilidade do programa;"
Font(e: Pimentel, J. Reflexões sobre a avaliação de Programas de Intervenção Precoce in análise psicologica (1999), 1 (XVII): 143 - 152)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

As equipas de I.P



   Através desta reportagem sobre a Intervenção precoce conseguimos reter algumas informações importantes que até então não referimos, nomeadamente no que diz respeito às próprias equipas de I.P e também à importância que as famílias têm neste processo.

   Nesta reportagem, no primeiro caso pudemos referir que a equipa que acompanha a Denise é constituida por uma Assistente Social e uma Fisioterapeuta, observamos também que esta equipa está em casa da criança, no seu meio familiar, trabalhando em conjunto com a mãe desta.
   Já no segundo Caso, Caetana é acompanhada por um conjunto de seis técnicas, uma Terapeuta da fala, uma Terapeuta Educacional, uma Fisioterapeuta e três Educadoras, que se juntam numa reunião transdisciplinar como forma de discutir o estado da criança e as estratégias a implementar para um melhor desenvolvimento.



Quem são as equipas de Intervenção Precoce?
  
Segundo o Despacho Conjunto nº891/99, as equipas são constituídas por uma grande diversidade de disciplinas, em que cada elemento da mesma trabalha independentemente, dando respostas não coordenadas pela equipa enquanto um todo, são eles: um médico, um psicólogo, um educador, um técnico da segurança social e um terapeuta.
Estas equipas estão responsáveis pela programação da intervenção, cabendo-lhe, portanto:
  • Identificar as crianças e famílias imediatamente elegíveis para o SNIPI;
  • Assegurar a vigilância às crianças e famílias que, embora não imediatamente elegíveis, requerem avaliação periódica, devido à natureza dos seus factores de risco e probabilidades de evolução;
  • Encaminhar crianças e famílias não elegíveis, mas carenciadas de apoio social;
  • Elaborar e executar o PIIP (plano individual da intervenção precoce) em função do diagnóstico da situação;
  • Identificar necessidades e recursos das comunidades da sua área de intervenção, dinamizando redes formais e informais de apoio social;
  • Articular, sempre que se justifique, com as comissões de protecção de crianças e jovens e com os núcleos da acção de saúde de crianças e jovens em risco ou outras entidades com actividade na área da protecção infantil;
  • Assegurar, para cada criança, processos de transição adequados para outros programas, serviços ou contextos educativos;
  •  Articular com os docentes das creches e jardins-de-infância em que se encontrem colocadas as crianças integradas em IPI.

Mas onde podemos encontrar estas equipas?

As equipas de Intervenção Precoce, geralmente funcionam ao nível local, numa base concelhia. No entanto, se se justificar pode englobar vários concelhos ou serem definidas por referência a freguesias.
   Existe uma vasta rede de serviços de Intervenção Precoce, nas várias regiões do país, mas ainda não cobre todos os locais.
   Estas equipas devem ainda, dispor de instalações  sedeadas em serviços locais, nomeadamente, da Saúde, da Educação, da Acção Social, das Autarquias, das Instituições e Cooperativas de Solidariedade Social.


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Para que serve a Intervenção Precoce?

   Depois de sabermos o que é e a quem se destina a Intervenção Precoce, torna-se fundamentar perceber para que serve.
   De acordo com o Despacho Conjunto nº 891/99, a Intervenção Precoce é uma medida de apoio integrado que visa assegurar condições facilitadoras do desenvolvimento da criança com deficiência ou em risco de atraso grave de desenvolvimento, potenciar a melhoria das interacções familiares e reforçar as competências familiares como suporte da sua progressiva capacitação e autonomia face à problemática da deficiência. De modo a alcançar os pontos acima descritos, os objectivos da Intervenção Precoce centram-se em:
  • “Criar condições facilitadoras do desenvolvimento global da criança, minimizando problemas das deficiências ou do risco de atraso de desenvolvimento e prevenindo eventuais sequelas;”
  • “Optimizar as condições de interacção criança/família, mediante a informação sobre a problemática em causa, o reforço das respectivas capacidades e competências, designadamente na identificação e utilização dos seus recursos e dos da comunidade, e ainda, da capacidade de decidir e controlar a sua dinâmica familiar;”
  • “Envolver a comunidade no processo de intervenção, de forma continua e articulada, optimizando os recursos existentes e as redes formais e informais de interajuda.
Fontes:
http://www.prof2000.pt/users/bagao/html/dc891de99.htm (visitado a 9/12/2010)

Sabe o que é a Intervenção Precoce?

   Relativamente à questão por nós colocadas no perfil deste blog " Sabe o que é a Intervenção Precoce?",  pudemos verificar que foram apurados 15 votos, sendo que a  percentagem de respostas foi a mesma para as respostas sim e já ouvi falar (46%).
   Verificámos ainda que das respostas obtidas apenas uma pessoa não sabe o que é e nunca ouviu falar de Intervenção Precoce.

O que é a Intervenção Precoce?

    “Intervenção Precoce abrange serviços de educação especial e afins destinados às crianças de idades precoces e de idade pré-escolar com necessidades educativas especiais e às suas famílias.” (Bailey e Wolery,in Questões actuais em Intervenção Precoce,  2002).

    Para Dunst e Bruder (2002) a Intervenção Precoce define-se como uma prática que diz respeito “aos serviços, apoio e recursos necessários para responder às necessidades das crianças. Inclui assim, actividades e oportunidades que visam incentivar a aprendizagem e o desenvolvimento da criança; e, ainda, aos serviços, apoio e recursos necessários para que as famílias possam promover o desenvolvimento dos seus filhos, criando oportunidades para que elas tenham um papel mais activo neste processo.”

   Com base nestas definições destes quatro autores é possível retermos algumas informações a cerca deste assunto.   Deste modo, os programas de Intervenção Precoce dirigem-se à família, que inclui obviamente a criança, e é actualmente entendida como uma prática que se caracteriza por serviços, apoios e recursos que visam dar resposta às necessidades do conjunto da unidade familiar. A família é, deste modo, considerada como receptora e agente activo do programa, pois é fundamental que esta participe em parceria com os profissionais no decorrer do programa e que lhe seja atribuída a tomada de decisões em tudo aquilo que tenha a ver com a criança e com a família no seu todo.
Fontes:
- Almeida, I., Intervenção Precoce: Focada na criança ou centrada na família e na comunidade?, in Análise Psicológica (2004), 1 (XXII):65-72;
- Pimentel, J., Reflexões sobre a avaliação de Programas de Intervenção Precoce, in Análise Psicológica (1999), 1 (XVII): 143-152. 

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Histórias de Vida...Caso 2 - "Fora da Realidade"

Este caso passou-se numa família monoparental (mãe e dois filhos), onde foi filmada a interacção mãe-filho com um bebé de seis meses nascido de 33 semanas. O bebé estava ao colo da mãe e a sua postura era rígida. A mãe segurava-o como se tratasse de um bebé de um ou dois meses. Apesar de estar ao colo da mãe, não havia contacto ocular ou qualquer reciprocidade. A mãe, muito sorridente, olhava o bebé e depois sorria para a câmara.
Pouco tempo após ser iniciada a filmagem, o irmão mais velho de três anos entra na sala. A mãe dirige a atenção para o filho mais velho e ajuda-o a subir para o triciclo (enquanto segura o bebé). A partir desse momento, o jogo passa a centrar-se, exclusivamente, entre o filho mais velho e Maria (a mãe).
Passado o primeiro minuto, o irmão mais velho quer pegar no irmão mais novo. Com a permissão da mãe, segura o irmão desajeitadamente pelo pescoço e o bebé começa chorar. O bebé bate com a cabeça no triciclo e a mãe ri-se. O irmão mais velho ri-se e agride intencionalmente o bebé. A mãe diz para não o fazer, mas não retira o bebé do colo do irmão e continua a sorrir. Passado algum tempo, a mãe recupera o bebé. O bebé choraminga mas não recebe conforto. A interacção continua sob a aparente “boa disposição” da mãe. Subitamente, o irmão mais velho, ao sair do triciclo, parece que vai cair e, para o ajudar, a mãe larga o bebé, deixando-o cair no chão (a cerca de um metro de altura). O choro do bebé é intenso. A mãe demora a pegar-lhe ao colo e continua a sorrir para a câmara. Mais tarde, a criança mais velha está a brincar e tropeça num tapete. A queda não tem gravidade; a criança levanta-se sem chorar e continua a brincar. Inesperadamente, a mãe dá-lhe uma bofetada. Tudo isto acontece em três minutos e meio.
A situação foi considerada de alto risco atendendo à falta de empatia da mãe após ter deixado cair o bebé. A equipa de intervenção precoce estava há muito tempo preocupada com o caso e, quando regressou ao domicílio, Maria tinha fugido e deixado para trás as crianças sozinhas.
A equipa acabou por perder o rasto às crianças.

AFINAL ... O QUE É A INTERVENÇÃO PRECOCE?

Histórias de Vida...Caso 1 - "De costas para a criança para não encarar a vida"

         Numa sala relativamente despojada de móveis mas com tapetes de actividades no chão e com brinquedos muito diversos, convidamos a Francisca e a sua mãe a entrarem. Madalena parecia tão confusa como a filha; pedimos-lhe que brincasse com a sua filha de 11 meses como habitualmente o fazia em casa. Madalena tinha aceite participar no estudo e sabia que tinha “apenas” que brincar com a filha durante cinco minutos enquanto o jogo era filmado. Mãe e filha faziam parte da amostra: 2 “famílias oriundas de meios socioeconomicamente desfavorecidos com bebés nascidos de termo”. 
          Depois do reconhecimento do espaço, Madalena sentou a filha em frente aos brinquedos e sentou-se de costas para ela. Passaram dois minutos (uma infinidade de tempo, do ponto de vista do observador) e nada aconteceu. As duas ficaram quietas mirando em silêncio o espaço.
O bebé, por duas vezes, levantou os braços em direcção aos brinquedos. O observador, seguindo o protocolo destas situações, relembrou as regras à mãe: “pode brincar com a criança, se quiser use os brinquedos!” A mãe colocou a criança ao seu colo, mas de costas para si (sem nunca espreitar para monitorizar as reacções das criança) e abanou uma roca durante 5 minutos. Mãe e filha permaneceram todo o tempo em absoluto silêncio.
Madalena de 18 anos, casada, nunca tinha tido emprego e completou apenas quatro anos de escolaridade. Toda a família vivia de subsídios estatais.
          Madalena comparecia a todas as sessões com a equipa de intervenção precoce embora permanecesse conspicuamente passiva mas sempre atenta.
            A equipa de intervenção precoce que tinha apresentado o caso à equipa de investigação centrava as suas preocupações nos aspectos desenvolvimentais. O elevado atraso de desenvolvimento da criança preocupava os técnicos. A investigadora principal e uma outra cotadora (independente e “cega” relativamente aos objectivos do estudo) pontuaram a relação mãe-filho na categoria de risco. O registo filmado informava que mãe e a filha estavam pouco habituadas a interagir ou a desenvolver actividades em conjunto.
           Neste caso, a equipa de intervenção precoce e os investigadores aliaram esforços. Uma vez concluída a recolha e análise dos dados, de modo a não enviesar o estudo, e com o consentimento da família: técnicos e investigadores reuniram-se num workshop sobre “Intervenção precoce na vinculação e envolvimento parental” e o caso foi discutido, apresentando as melhores maneiras de ajudar a família.
          Cinco anos depois, Madalena está empregada e a estudar. Por seu turno, a Francisca progrediu bem e fez uma excelente adaptação à escolaridade do primeiro ciclo.

(Casos: F.Marina. A outra face da investigação: Histórias de vida e práticas de intervenção precoce. Escola Superior de Educação de Lisboa)
imagem: http://bruna-avanzo.blogspot.com/ visitado no dia 25.10.2010)